Trabalhando em uma grande agencia de viagens on-line, já tive que lidar com muitos clientes que tiveram grandes problemas e até mesmo prejuízos que poderiam ter sido evitados na hora de comprar suas passagens pela internet.
Algumas dicas podem parecer bastante obvias para os viajantes mais experientes, mas mesmo quem já compra passagens frequentemente pode cometer algum deslize. Em alguns casos a Cia aérea ou a agência de viagens podem conseguir solucionar o problema, porém muitas vezes isso pode gerar um custo adicional. Em outros casos dependendo do que deu errado na compra, dependendo das regras tarifárias de cada bilhete e até mesmo das regras da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) pode ser que não haja possibilidade de fazer alterações e o passageiro acaba perdendo todo o dinheiro investido na compra. Ninguém gosta de perder dinheiro não é mesmo? Mas com essas dicas simples você terá bem menos chance de perder dinheiro ao comprar sua passagem e vai aproveitar sua viagem ainda mais. Escolha da data da viagem Sei que é complicado falar em escolha de data para viajar nesse momento de pandemia. Muita coisa pode acontecer e fazer você precisar alterar a data da sua viagem. Porém comprar a passagem por impulso e sem a certeza que realmente poderá viajar na data comprada pode trazer grandes prejuízos. Com a pandemia as Cias aéreas adotaram políticas mais flexíveis de alterações e cancelamentos. Em caso de alterações pode ocorrer do passageiro ter que pagar diferenças tarifaria que podem ser bem caras. E em caso de cancelamento ele pode demorar até 12 meses segundo a Lei N 14.034. Ou seja, além da frustração de não fazer a viagem, se você conseguir o reembolso integral da tarifa, não poderá contar com esse valor por um bom tempo. Mesmo antes da pandemia, (ou quando ela terminar e as cias não tiverem regras flexíveis) em caso de alterar ou cancelar a passagem, a Cia aérea pode cobrar multa para fazer esses procedimentos e também diferença tarifaria. Se você adquire uma tarifa promocional provavelmente seu bilhete não permitirá fazer nada disso e em muitos casos o passageiro recebe de volta apenas os valores das taxas de embarque que em caso de vôos nacionais é de R$32,95. Então em qualquer caso reflita bem antes de decidir pela compra e a data da sua viagem para não ter perder dinheiro. Preste atenção ao preencher os dados da compra Depois de encontrar uma passagem com preço bom Você decide comprar. Preste bem atenção a todos os detalhes do preenchimento de todos os campos solicitados no momento da compra. Parece uma dica boba, mas já vi clientes que acabam preenchendo o próprio nome errado, errando o nome de pessoas da família e até mesmo preenchendo o nome do passageiro com o nome de outra pessoa que nada tem a ver com a viagem. Se você pedir a algum conhecido para comprar uma passagem para você, certifique-se que a pessoa tenha todos os seus dados corretos. Corrigir o nome de um passageiro em uma reserva de passagem aérea não é algo simples. Se a correção necessária for de até 3 letras é possível conseguir essa correção com a Cia aérea.Caso seja necessário alterar o nome ou algum sobrenome do passageiro a Cia aérea pode entender isso como mudança de titularidade do passageiro, ou seja, transferir a passagem para outra pessoa (tal procedimento é inclusive proibido pela ANAC) e na maioria das vezes essa correção não é autorizada. Pode haver exceções, mas a grande maiorias das Cias aéreas são muito rígidas quanto a isso. Leia atentamente todos os dados preenchidos antes de avançar para a próxima etapa da compra. Preste atenção ao nome e sobrenome, número de documento informado, data selecionada, itinerário da viagem (de onde sai e vôo e aonde ele chega) e o seu endereço de email. Informe um email que você acesse com freqüência, pois qualquer informação importante será enviada através dele. Fique bem atento a todos os dados que você preencheu ao fazer a busca da passagem. Em muitos sites se você não especificar o aeroporto de sua preferência o sistema pode te indicar um aeroporto bem distante de onde você precisa chegar. Por exemplo, se você precisa comprar uma passagem com destino a São Paulo capital os aeroportos disponíveis são Guarulhos ou Congonhas. Se a pessoa não se atentar e comprar uma passagem para o aeroporto de Viracopos que fica a mais de 100 km de São Paulo pode acabar arruinando a viagem. Mesmo que você esteja disposto a pagar pela alteração da passagem pode ocorrer da Cia aérea não ter disponibilidade de vôo para o destino e a data que você precisa. Preste atenção também aos valores, da tarifa, taxas cobradas pelas agências e quaisquer outros valores informados na hora da confirmação do pagamento. Após a finalização da compra você deverá receber um email com a confirmação dos dados da passagem comprada e também o voucher. Muita gente não lê o email de confirmação e acredite isso pode ajudar muito se houver algum problema com a compra feita. Se você não receber o email de confirmação entre em contato com a empresa responsável pela compra e confirme se está tudo certo. Se você tiver qualquer dúvida com o processo de compra, resolva antes de finalizar essa compra. Verifique no site onde estiver comprando ou entre em contato com o canal de venda. Algo deu errado, e agora? Mesmo tomando todas as precauções algo pode sair errado. Nesse caso entre em contato com a empresa onde comprou a passagem o quanto antes. Na maioria dos casos é possível estornar essa compra para que você possa refazê-la da forma correta. Se a empresa não tiver um chat, um meio rápido de atendimento entre em contato por telefone, mesmo que seja demorado, mas não deixe de resolver o mais rápido possível. Muitas pessoas que não tem o hábito de comprar pela internet podem encontrar dificuldades em comprar passagens, principalmente as pessoas mais velhas as quais o universo on-line ainda parece bastante complicado. Ter dúvidas é perfeitamente comum. Só não deixe que isso atrapalhe a sua experiência de viagem logo no começo. Informe-se, peça ajuda para alguém de confiança, procure empresas serias e de confiança, tome cuidado com mensagens suspeitas e não confirme nada até ter certeza que está tudo certo com a reserva de sua passagem aérea.
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Planejar uma viagem para muitos pode parecer um bicho de sete cabeças. Algumas viagens são mais simples de planejar, outras mais complexas e exigem uma série de pesquisas e detalhes a serem decididos. Mas esse processo pode ser mais fácil e prazeroso do que você imagina. Você pode estar pensando: “como vou pensar em viajar nesse momento de pandemia?” E essa é uma preocupação bem importante. Ainda não existe uma vacina, portanto há riscos de contaminação, muitos lugares não podem ainda ser aproveitados da melhor forma e enquanto essa pandemia não for verdadeiramente controlada o turismo estará bastante limitado. Esperamos e torcemos pra que isso tudo passe o mais breve possível. Mas o seu planejamento pode ser feito aos poucos, com calma, mesmo sem ter ainda uma data definida. Além de ocupar o seu tempo de uma forma saudável pensando em dias melhores, você vai gostar cada vez mais da idéia de fazer uma viagem e isso vai te dar força em momentos difíceis. Quando definir o destino vai ser ainda melhor, pois pesquisando você vai se apaixonando aos poucos pelo lugar que decidiu conhecer. Vantagens de planejar com antecedência Planejar uma viagem com um bom tempo de antecedência terá muitos benefícios. Você terá tempo para pesquisar tudo com calma e tomar decisões mais acertadas. Com antecedência você também terá a possibilidade de fazer planos maiores, como viajar para um destino mais distante e diferente do que está acostumado, planejar uma viagem sozinho, se você nunca fez isso e tem receios de fazer, pensar em algum tipo de viagem mais alternativo como uma trilha de longa distância ou algo com um propósito diferente mas que para você possa ter um grande significado e até mesmo se focar naquele destino dos seus sonhos. Aquele local paradisíaco que você vê, mas por algum motivo achou que seria inalcançável. Enfim esse é o seu momento de sonhar e esquematizar tudo do começo ao fim. Ter antecedência também vai ajudar muito na questão financeira da viagem. Planejamento financeiro é algo essencial na vida de todos e se a sua viagem requer um gasto maior, pode ser que você não possa fazê-la num curto prazo, mas com tempo hábil é perfeitamente possível se organizar e criar estratégias de viabilizar a sua viagem. Há muitas formas de fazer isso. Economizar com os gastos do dia a dia, separar um certo valor todo mês, procurar uma renda extra e esses são só alguns exemplos. Tudo vai depender da realidade de cada um, mas a falta de dinheiro atual não precisa ser um obstáculo para realizar uma viagem em médio prazo. Ter um objetivo grande vai te ajudar a ser mais disciplinado com dinheiro, você vai aprender a valorizar todo dinheiro que ganha e analisar melhor onde está gastando. Se você decidir viajar para fora e ainda não domina o idioma local também terá tempo para se dedicar ao aprendizado. Hoje em dia há muitas formas de aprender um idioma. Você pode procurar uma escola mais tradicional, mas também há outros meios. Pode usar aplicativos, procurar bons canais no You tube, fazer cursos on-line ou buscar um método que seja mais adequado para você. Conhecer o idioma local ao fazer uma viagem te ajudará a se virar sozinho nas mais diversas situações, além de permitir o contato com moradores locais e outros viajantes. Além disso, será um aprendizado para a vida toda, para usar no seu dia a dia e em muitas outras viagens. Escolha do melhor destino para você Como já disse antes esse é o momento de sonhar. A escolha do destino deve levar em consideração principalmente as suas preferências pessoais e de quem viajará com você. Faça uma auto-análise: Que tipo de clima você prefere frio ou calor? Gosta de cidade grande ou de natureza? Qual o objetivo da viagem? Ficar de bobeira na praia ou fazer passeios que exigem mais preparo? (apenas como exemplo). Se ainda não tiver um destino em mente, faça também uma lista com possíveis destinos e vá filtrando a lista. Analise os prós e contras de todos os locais até chegar ao que mais combina com você. Pesquise também a melhor época do ano para visitar cada local da lista ou o local definido e dessa forma poderá definir também um plano B, caso necessário para adaptar a sua disponibilidade de tempo com as condições favoráveis para cada lugar. Pesquise muito sobre os locais que te interessam. Converse com pessoas que já foram, entre em grupos na internet, anote todas as dicas. Depois de definir um destino continue a pesquisa de uma forma mais refinada. Verifique os meios de chegar até lá. Quais Cias aéreas você poderá utilizar e qual oferece melhor custo benefício (programas de milhagens, por exemplo). Alguns locais têm meios de hospedagens alternativos que podem te ajudar a economizar, verifique se essa possibilidade se aplica. Quanto mais informado você estiver melhor será a sua viagem. Check list Muitas providências podem ser tomadas mesmo em longo prazo. Isso pode evitar aborrecimentos e correria na véspera da viagem e também vai fazer você economizar muito. Pesquise a documentação necessária para a sua viagem. Mesmo viajando no Brasil pode haver a necessidade de atualizar algum documento. Como o RG, que tem validade de dez anos e se o seu foi emitido há mais tempo que isso ou se não estiver em boas condições a Cia aérea pode negar o seu embarque. Mesmo que você decida providenciar os documentos após a compra da passagem esteja atento a todas as questões burocráticas como vistos, vacinas, certificado internacional de vacinação e tudo mais que seja necessário de acordo com o local para onde pretende ir. .Após a definição do destino e do objetivo da viagem você já poderá pensar também em tudo que precisará levar e pode ir comprando aos poucos, escolher o que mais te agrada e procurar bons preços. Novamente faça uma auto-análise e descubra o que será importante para você nessa viagem. Se você, por exemplo, gosta de fotos e quer registrar tudo, talvez deva pensar em investir em um equipamento adequado a isso. Um celular com boas configurações para fotos ou até mesmo uma câmera e como a idéia aqui é um planejamento antecipado você terá tempo para aprender sobre os recursos de seus equipamentos e utilizá-los da melhor forma. Roupas e calçados específicos também constarão na sua lista principalmente se seu destino for algum lugar com temperaturas mais baixas. Estar bem preparado quanto a isso vai te permitir aproveitar melhor a sua viagem. Muita gente prefere deixar para comprar roupas de inverno ao chegar ao destino. Nesse caso faça um comparativo entre os preços que você encontrará por lá e os preços daqui, normalmente comprar fora é mais barato mesmo. Mas considere que você pode levar um tempo procurando o que precisa se não planejar bem essa compra e se tiver poucos dias no lugar perderá um tempo precioso. Coloque tudo na ponta do lápis e veja que deixando tudo isso para comprar e/ou providenciar em cima da hora você vai gastar muito, perderá boas promoções e a viagem sairá muito mais cara. Resumindo tudo isso, temos uma pequena lista que você pode considerar no seu planejamento: - Documentações - Roupas, calçados e equipamentos - Objetos de uso pessoal ( de acordo com suas necessidades) - Celular, câmera fotográfica e acessórios (o que você achar necessário) Lembrando que você não vai utilizar esses itens apenas em uma única viagem, poderá usar em muitas outras e até mesmo no seu dia a dia, portanto é interessante adquirir itens de boa qualidade e cuidar para que tenham uma vida útil maior. Organize-se e faça as malas Viajar é algo maravilhoso. Expande os nossos horizontes. Aumenta a nossa cultura e nos traz felicidade e ótimas lembranças. Em alguns casos como o meu torna-se até um vicio (já que estou sempre pensando nisso). Como qualquer coisa que traz grandes recompensas, viajar requer organização, mas o bom é que você pode fazer isso de uma forma tranquila sem estresse e até se divertir com esse processo de planejamento. Seguindo esse método de planejamento antecipado consegui fazer viagens maravilhosas. E sei que é possível mesmo que a principio pareça algo caro. Sempre há alternativas para fazer uma viagem que vai te proporcionar bons momentos e lembranças para a vida toda.
A primeira vez que eu disse para os meus pais que ia viajar sozinha foi um grande choque para eles. Tanto meu pai quanto a minha mãe ficaram com a pulga atrás da orelha, contrariados e muito preocupados. É uma reação bastante compreensível, afinal muitos pais tendem a querer os filhos sempre por perto para ter aquela sensação de que estarão protegidos e em segurança. E mesmo hoje em dia depois de já ter feito diversas viagens e algumas delas sozinha, quando digo que vou fazer uma viagem sozinha isso ainda causa estranheza não apenas na família, mas em muita gente.
Para muita gente e até para muitas mulheres viajar sozinha ainda é um tabu. Mas na verdade esse tabu está relacionado a questões culturais em muitos países como o Brasil. Viajando pelo mundo é muito comum ver mulheres de todas as idades viajando sozinhas e de forma independente. Entre as européias e as mulheres de países mais desenvolvidos uma mulher viajando sozinha é algo muito comum. Nunca fui questionada por uma dessas viajantes independentes do porque eu estava viajando sozinha, mas em conversas com amigos brasileiros essa questão sempre surge e desperta reações diferentes nas pessoas. Algumas pessoas dizem admirar uma mulher que viaja sozinha e dizem que sou bastante corajosa. Já outras acham muito estranho uma pessoa que viaja sozinha, não entendem o porquê uma pessoa resolve viajar sem ter uma companhia, dizem que é perigoso e que jamais fariam algo assim. Eu já fiz varias viagens com amigos e sei que é ótimo ter uma companhia para curtir aquele destino badalado, alguém para conversar, dar muitas risadas e criar histórias incríveis sobre aquela viagem compartilhada e depois se lembrar de tudo e querer repetir as aventuras. Eu amo viajar. E por isso eu acho importante aproveitar as oportunidades que surgem, principalmente quando se trata de viagens para lugares mais distantes, afinal não é sempre que você vai ter tempo de fazer uma viagem internacional por exemplo. Nem sempre as pessoas próximas vão ter a mesma disponibilidade de tempo ou condições financeiras que você para fazer uma viagem bacana, mas isso não precisa ser um impedimento para você fazer essa viagem. Viajar sozinha não significa ser uma pessoa solitária, sem amigos, sem companhia. Decidir fazer uma viagem sozinha significa antes de tudo que você é capaz de ser independente, que você é capaz de ir atrás do que te faz feliz sem depender de ninguém. Significa ser uma mulher corajosa, já que como mulher você sempre terá mais dificuldades, mas com os devidos cuidados é perfeitamente possível fazer uma viagem solo e tirar disso muito aprendizado. Eu sempre quis sair por aí e conhecer o mundo, então quando as oportunidades me surgiram eu simplesmente aproveitei ao invés de criar uma dependência desnecessária de qualquer outra pessoa. Fazer uma viagem sozinha é na verdade uma das coisas mais libertadoras que existem. Você vai aonde quiser, faz somente o que quiser, não precisa conciliar suas vontades com as de ninguém, não precisa dar explicação a ninguém se quiser ficar de bobeira ou acordar bem cedo e fazer algum programa que outras pessoas não fariam. Você vai apreciar a sua própria companhia. Conversar com quem quiser voltar para o hotel a hora que quiser e fazer tudo do seu jeito. Viajar sozinha não significa estar sozinha o tempo todo. Acredito até que as pessoas ficam mais propensas a fazer amizades quando estão sozinhas. Quando viaja com alguém é natural se sentir seguro e confortável por ter aquela pessoa por perto, então muitas vezes a gente acaba negligenciando as possibilidades de fazer novas amizades. Eu já conheci muita gente viajando sozinha, tive muitas conversas legais, saí pra jantar e beber com pessoas que conheci em hostels e nos lugares mais diversos. Eu tive experiências que eu não teria se não estivesse sozinha. Como mulher que viaja sozinha, a minha primeira preocupação desde a escolha do meu destino é a minha segurança. Infelizmente ser mulher me torna muito vulnerável em algumas situações. Eu queria poder dizer que as mulheres podem viajar e estar tranqüilas em qualquer lugar do mundo, mas isso ainda está muito longe da realidade. Em muitos países ainda predomina uma cultura machista, na qual as mulheres tem poucos direitos e mesmo esses poucos direitos não são respeitados. É uma situação muito triste para as mulheres que vivem em lugares assim e também para aquelas que por ventura estejam apenas de passagem. Uma mulher sozinha muitas vezes é vista apenas como uma presa fácil. Felizmente eu nunca tive problemas com relação a minha segurança durante as minhas viagens. Sempre pesquiso muito a questão da segurança antes de decidir por um destino. Acredito que por viver em São Paulo, uma cidade com grandes problemas de violência, acabei desenvolvendo um instinto de estar sempre alerta, sei que aqui na minha cidade não dá para ir a qualquer lugar a qualquer hora, sempre há um risco de ser assaltada ou coisa pior infelizmente. Então esse mesmo instinto de auto proteção me acompanha também nas minhas viagens e acho isso muito importante, mesmo em lugares considerados seguros. Se você é mulher e resolve viajar sozinha, é normal que muita gente tente te desencorajar a fazer isso. Assim como já tentaram fazer comigo e felizmente não funcionou. Muita gente vai te falar que viajar sozinha é perigoso e que você vai estar longe das pessoas conhecidas e vão até te contar histórias de gente que viajou sozinha e acabou se dando mal. Como já citado anteriormente até mesmo a cidade onde você mora pode ser um lugar perigoso e é preciso estar atento em qualquer lugar. Estar perto das pessoas conhecidas também não é garantia de que você vai estar seguro. Sobre as histórias tristes, elas também me chocam. Eu ainda sonho com o dia em que toda mulher possa andar na rua em qualquer lugar sem sentir medo por ser mulher.Que toda mulher tenha seus direitos respeitados em qualquer lugar que tenha nascido e não seja vista nem tratada como um objeto ou um ser inferior. Ser uma mulher independente é um ato de resistência e de coragem. E para aquelas que ousam ter essa coragem o mundo está repleto de destinos maravilhosos para serem desbravados. Você vai aprender a gostar da sua própria companhia e vai ter tempo e a oportunidade de se descobrir e se conhecer melhor. Você vai descobrir o quanto você é forte e capaz de fazer muita coisa sozinha. Você vai aprender a se virar e ter jogo de cintura, sempre que for necessário. Você vai aprender a rir de você mesma e a se divertir sozinha. Comer seus pratos favoritos e descobrir outros também. Você vai descobrir também que vale a pena se arriscar, que o mundo parece assustador, mas tem também muita gente espalhando gentileza por aí. Seja gentil com você mesma e permita-se viver novas experiências. E se você como eu ama tirar muitas fotos nas suas viagens saiba que existem muitas maneiras de sair em muitas fotos mesmo viajando sozinha. Peça para as pessoas próximas tirarem fotos suas, abuse das selfies e acessórios para seu equipamento fotográfico ou celular. Pequenas dificuldades como essa podem ser contornadas apenas com um pouco de criatividade. Foque sempre nas soluções e faça viagens incríveis. E não se esqueça. Seja sua melhor companhia.
Essa viagem foi com certeza a experiência mais incrível até hoje, difícil, intensa, enriquecedora. Ensinou-me muitas coisas e também me incentivou a escrever e relatar tudo que vivi percorrendo o Caminho de Santiago.
Desde a primeira vez que ouvi falar sobre o Caminho de Santiago eu quis percorrê-lo e foram mais ou menos seis anos até que esse sonho pudesse ser realizado. Eu sempre gostei de caminhar, me dá a sensação de liberdade. E neste caso não seria apenas caminhar, Seria uma jornada com um grande significado. Algo como uma meditação em movimento e em comunhão com a trilha percorrida. Seria uma longa jornada passando por muitas cidades e pequenas vilas que eu desconhecia completamente ou apenas ouvira falar de seus nomes. Seria muito mais do que caminhar ou querer apenas alcançar um destino, afinal, se a intenção fosse apenas chegar existiam maneiras mais fáceis do que andar centenas de quilômetros a pé. Percorrer o Caminho de Santiago tem um significado muito particular para cada um de seus peregrinos, cada pessoa com quem encontramos pelo caminho tem uma história de vida, uma história com o caminho e um porque só seu de estar ali. O Caminho de Santiago de Compostela é uma das peregrinações mais conhecidas em todo o mundo. A peregrinação tem como destino final a cidade de Santiago de Compostela na região da Galícia na Espanha, onde por volta do ano 830 d.C. foi encontrado o túmulo do apóstolo Tiago. A noticia dessa descoberta foi levada ao rei Afonso II de Astúrias que viajou até o local da descoberta partindo da sede de seu reino. Chegando lá e após confirmar a descoberta mandou construir uma capela e tornou-se o primeiro peregrino oficial. Dessa forma surgiu um dos mais importantes centros de peregrinação cristã. Ao longo dos séculos, milhares de pessoas têm percorrido os caminhos que levam a Santiago de Compostela em busca de reflexão, autoconhecimento e para professar a sua fé. Existem muitas rotas para se chegar até Santiago de Compostela e alguns pontos mais conhecidos e procurados para iniciar o percurso, porém na verdade cada um pode iniciar o seu caminho onde bem quiser. Após muita pesquisa, leitura sobre o caminho e planejamento., resolvi que dos muitos caminhos que levam a Santiago de Compostela iria percorrer o Caminho Português Central. O Caminho Português é a segunda rota mais utilizada para se chegar até Santiago de Compostela na Espanha, perdendo apenas para o famoso Caminho Francês, cujo percurso total tem aproximadamente 800 km e costuma ser feito de 30 a 40 dias passando por diversas regiões da Espanha. Ainda é um sonho caminhar esses 800 km, mas diversas razões me levaram a escolher para essa primeira vez o Caminho Português Central. A principal razão é que essa seria a minha primeira vez em uma experiência desse tipo, uma peregrinação que exige tantos dias de caminhada. Eu nunca tinha feito antes um trekking que durasse vários dias, por exemplo, então, mesmo não sendo uma pessoa sedentária eu não fazia idéia de como meu corpo reagiria a um esforço tão prolongado. Nos meses que antecederam a viagem me preparei fisicamente, fiz muitas trilhas em montanhas, caminhadas e musculação para fortalecer o corpo e isso tudo foi bem importante. Enquanto planejava me encantei pela idéia de caminhar pelo norte de Portugal e por parte da Galícia na Espanha e a viagem ia então tomando forma. Cada viajante faz seu próprio caminho. É o que se diz a respeito dos peregrinos. Oficialmente esse caminho inicia em Lisboa. Segundo muitos relatos não há muitos albergues peregrinos municipais entre o trecho Lisboa e Porto, por isso a grande maioria das pessoas opta por iniciar no Porto e foi o que decidi fazer também. Mas com certeza em outra oportunidade com mais tempo disponível gostaria de fazer esse Caminho iniciando em Lisboa. Partindo da Catedral da Sé no Porto até alcançar a Catedral de Santiago de Compostela foram 245 km de caminhada em 11 dias.
1° dia. Do Porto até Vilarinho, 26,9km
Acordei por volta das cinco e meia da manhã. Nunca fui fã de acordar cedo então já estava começando a superar um grande desafio. Como tinha deixado tudo organizado me arrumei bem rápido, tentando não fazer barulho e apenas com a luz de uma lanterna para não incomodar as outras pessoas do quarto. Em poucos minutos já estava na rua ainda com céu escuro, caminhando em direção a Catedral da Sé. Do hostel até a Catedral teria que caminhar mais ou menos 25 minutos e como queria ir por um caminho mais curto e diferente dos que tinha feito antes, pedi informação a um senhor na rua e o mesmo me disse que para ir a pé a catedral estava muito longe, mas me indicou o caminho de qualquer forma. Já que distancia não era um problema pra mim segui para o ponto zero da minha caminhada já com o dia amanhecendo. A imensa Catedral da Sé no Porto parece ainda mais imponente nas primeiras horas da manhã. Sem a multidão de turistas, o céu ainda adquirindo as cores daquele novo dia e naquele grande pátio em frente à catedral apenas algumas pessoas de mochila nas costas que tinham com certeza o mesmo destino que eu. Fiz ali uma oração, pedi a Deus para guiar meus passos no caminho. Sentei em um degrau, comi alguma coisa e tomei um suco. Logo em seguida comecei a seguir as setas amarelas. Como havia estudado esse primeiro trecho do caminho, não tive dificuldade. Caminhei firmemente, sem pressa, no meu ritmo. Quando o caminho chega à Rua de Cedofeita se estende numa reta quase sem fim e foi seguindo por ali que escutei o primeiro “Buen Camino” do meu caminho e aquilo encheu meu coração de alegria. Mais a frente, parei em um mercado para comprar água e me atrapalhei para voltar ao caminho certo... Nesse primeiro dia a paisagem é predominantemente urbana. Muitos carros, apenas ruas de asfalto e bairros industriais. Em alguns pontos mal havia acostamento para caminhar e era preciso tomar bastante cuidado com os carros. Ainda estava tudo bem diferente do caminho que imaginei. Apenas chegando a Moreira da Maia a paisagem urbana vai se distanciando dando lugar ao verde do interior. O calor era intenso, não havia muita sombra. No município de Araújo comecei a caminhar com o Ricardo, que é português e com quem conversei muito sobre muitas coisas. Fomos até a cidade de Vilarinho, onde nos hospedamos no albergue particular Casa de Laura por 12 euros (valor normalmente cobrado nos albergues particulares). O lugar era bem confortável e não havia muitas pessoas hospedadas lá. Após tomar um banho e lavar as roupas saímos para comer perto dali. Vilarinho é uma cidade bem pequena, não havia nada para fazer por ali. Como não estávamos cansados Ricardo e eu fomos até a praia de uber a poucos minutos dali. Um passeio bem inusitado e bem agradável. 2° dia. De Vilarinho a Barcelos 28,1km
Paragraph. Clique aqui para eAcordei bem disposta, me alonguei como café da manhã, comi bolinhos que ainda tinha na mochila e pé na estrada novamente. A paisagem era completamente diferente do dia anterior e o caminho tomou outra forma. Muito verde, ruas de paralelepípedo, um rio bem tranqüilo que refletia a ponte sobre ele. O cenário ideal para caminhar e se conectar com o caminho e com você mesmo.
Você pode escolher caminhar sozinho, mas sempre haverá no seu caminho boas companhias. A conversa sempre começa com um “buen camino”, a saudação oficial no caminho de Santiago e logo se tem um novo companheiro de jornada, ainda que seja apenas por algumas horas ou alguns quilômetros. Nessa manhã conheci um grupo de mulheres que estavam caminhando juntas desde a saída de seu albergue e me convidaram a caminhar junto com elas e claro, eu aceitei. Eram elas, Maria, de Portugal, Cecilie, uma jovem indonésia que mora na França e Katerine, uma senhora canadense. Conhecer pessoas tão diferentes de mim é certamente um dos presentes que o caminho nos oferece. Juntas nós quatro caminhamos alguns bons quilômetros naquele dia de baixo de um sol muito forte que parecia só piorar com o passar do dia. Cecilie eu na verdade já tinha visto no dia anterior em um café, andava rápido, estava sempre um pouco à frente, Maria foi com quem eu mais conversei, foi uma grande companheira nesse dia. Katerine, uma inspiração pra mim, estava fazendo o caminho aos 65 anos de idade, infelizmente não pode seguir conosco até o final naquele dia, pois estava bem cansada e precisou parar antes. Seguimos em frente, passando por plantações de milho, bosques, ruas de terra, ruas de asfalto, muitas igrejas e para minha felicidade vários campos de girassóis. Foram longos trechos sem sombra alguma, poucos lugares com água potável e depois do almoço foi ainda mais cansativo. Maria e eu paramos varias vezes para descansar. Cecilie sempre na frente até que a perdemos de vista. Levamos muitas horas até chegar a Barcelos. A cidade é bem turística, logo na entrada tem um enorme galo, um dos símbolos de Portugal. Infelizmente estava tão cansada que não consegui ver muita coisa da cidade. Chegando ao albergue Cidade de Barcelos, após um penoso dia o lugar estava lotado. A senhora responsável pelo local nos disse que só havia um pequeno quarto onde poderíamos dormir em colchões se não nos importássemos em dividir o lugar com uma garota que já estava lá. Não nos importamos e a garota era Cecilie que havia chegado um pouco antes. Nesse albergue não havia um valor específico para pagar, era só fazer uma doação com valor que pudesse pagar colocando o dinheiro em uma caixinha. Foi nesse dia que fiquei sem celular, pois meu aparelho quebrou. Não havia o que fazer sobre isso além de me conformar. Felizmente para tirar fotos tinha levado uma câmera e tinha um tablet então não fiquei completamente incomunicável. Maria teve muitas bolhas nos pés, teve que ir ao centro médico e infelizmente não iria seguir no caminho. O quartinho onde estávamos no albergue era bem abafado então para não passar tanto calor à noite pegamos nossos colchões e nossas coisas e aceitamos a sugestão da dona do local e dormimos na recepção do albergue. Simples assim, sem frescura, grata por mais um dia na jornada que eu havia escolhido. Na simplicidade você percebe que tem tudo àquilo que precisa. 3°dia De Barcelos até Portela de Tamel 10 km No caminho de Santiago nenhum dia é igual ao outro. A paisagem muda constantemente, o tipo de solo muda quase que a cada curva. Algumas pessoas você encontra varias vezes ao longo dos dias, outras caras novas vão surgindo. Com o passar dos dias o corpo vai sentindo o esforço prolongado também. Doem os pés, as pernas as costas... Às vezes alguma dor vai incomodar bastante. Tem dias em que é mais fácil se manter em movimento, em outros, você quer parar a todo instante. A única rotina consistia em acordar bem cedo, me arrumar, arrumar a mochila e partir. E ao chegar ao próximo local de descanso, tomar um banho, lavar a roupa e comer. Não dava pra fugir disso. Nesse terceiro dia Cecilie e eu seguimos juntas. Devido ao cansaço do dia anterior, fizemos uma das etapas em duas partes, caso contrario seria um percurso de quase 34 km e o calor estava fortíssimo. Não havia muitas opções de albergues antes de chegar a Ponte de Lima, então nesse dia o trajeto foi de apenas 10 km até Portela de Tamel, uma vila minúscula onde além do albergue havia uma igreja, um restaurante e mais nada. Por ter feito um trajeto mais curto que os outros dias foi relativamente mais fácil. Cecilie e eu conversamos bastante apesar do meu inglês não ser dos melhores. Nesse dia encontrei um casal de brasileiros, até então não havia encontrado ninguém do Brasil. Chegamos ao albergue por volta das 10 horas da manhã e o local só abria às 14 horas. Ficamos esperando abrir no restaurante em frente onde tomamos algumas cervejas. Não havia nada para fazer por ali então foi um dia de descanso. 4° Dia De Portela de Tamel até Ponte de Lima 23,7 km Mais um dia de lindas paisagens. O caminho te leva por bosques, trilhas, videiras. Provavelmente um dos dias mais bonitos em relação ao visual em todo o trajeto. A paisagem jamais te deixa entediado. Comecei o dia sozinha novamente. Em paz com meus pensamentos. Apreciando a minha companhia, com um longo caminho ainda pela frente, mas firme em cada passo. Ainda nas primeiras horas do dia conheci o Alberto, um italiano que me fez companhia durante todo esse dia. Alberto não falava muito bem inglês e eu também não, mas quando duas pessoas querem se comunicar elas dão um jeito de se entender e assim passamos o dia. Às vezes ele não me entendia e eu tinha que repetir alguma frase ou eu não o entendia e ele se esforçava pra me falar com outras palavras. Com o passar dos dias as suas pernas vão se acostumando com o esforço, mesmo assim ainda doem, principalmente quando você para por alguns minutos. Alberto às vezes caminhava junto comigo e às vezes eu acabava ficando para trás. Seguindo tranquilamente num percurso bastante agradável, com bastante sombra, cruzando pequenas vilas, trilhas em meio à natureza e nisso um sentimento de gratidão vai se intensificando. Gratidão por estar ali no caminho e tudo dar tão certo. Naquele dia já havia me acostumado bem a acordar tão cedo, pular da cama e em pouco tempo estar no meu caminho. Para muitas pessoas isso é simples, mas eu definitivamente não sou uma pessoa matinal, há anos trabalho no período da tarde, sempre tive o costume de dormir tarde, mas nessa jornada consegui transpor mais essa dificuldade e sim eu estava orgulhosa de cada pequena conquista durante todo o meu caminho. Eu que sempre me considerei muito distraída e avoada, aprendi a estar atenta. Por muitas vezes eu me perguntava se estava no caminho certo e quase sempre quando pensava isso logo via outra seta amarela para tirar minhas incertezas. Então logo eu pensava. Ok está tudo certo é só continuar seguindo, você está indo bem. Em muitos momentos eu sentia que o caminho é uma metáfora da vida. Na vida a gente às vezes fica confusa sem saber se está no lugar certo, no emprego certo, com as pessoas certas, a gente quase implora por um sinal, mas a falta de um sinal também pode indicar que estamos tomando o rumo errado. No caminho e na vida também. Nesse dia cheguei a Ponte de Lima por volta do meio dia. Quase não senti a caminhada, não senti o cansaço que geralmente sentia na chegada. Reencontrei o Alberto na ponte principal da cidade, ele já havia ido até o albergue público e como só abriria às 15 horas, procuramos um lugar para almoçar e tomar cerveja, porque aquele calor pedia uma cerveja gelada. Ponte de Lima é uma das cidades mais encantadoras desse caminho. Com certo ar medieval, construções muito antigas em paredes de pedra, banhada pelo rio Lima. Muitos peregrinos iniciam ali o seu caminho e a cidade estava também cheia de turistas. O albergue público ficava logo depois da ponte, em um edifício muito antigo como quase todos da cidade. No quarto onde fiquei havia uma varanda com uma linda vista da cidade e principalmente da ponte e do rio. O quarto era enorme com aproximadamente 30 camas, o único que não eram camas beliche e tinha um armário enorme para cada pessoa, um luxo para um albergue público. Foi ótimo ter chegado cedo à cidade, acabou sendo um dos dias mais proveitosos. Alberto e eu fomos passear no rio, tentei tomar sol, enquanto ele entrou na água que parecia gelada. É engraçado como em tão pouco tempo a gente se aproxima das pessoas que conhecemos em viagens a ponte de ter conversas tão sinceras e reflexivas sobre a vida, os planos, o futuro... Alberto é muito inteligente, mesmo sem falar inglês tão bem falava pelos cotovelos e naquela vibe boa praticamos um pouco de yóga. Saímos dali, novamente para sentar em um bar e tomar uma super bock, uma das cervejas mais tradicionais em Portugal. À noite jantamos junto com outros italianos e Alberto ia traduzindo a conversa toda para mim. 5° Dia de Ponte de Lima até Rubiães 17,9 km O caminho vai nos surpreendendo todo o tempo. No caminho português central não há muita dificuldade técnica, no geral basta ter disposição para caminhar bastante. Porém essa etapa foge bastante à regra. Nessa etapa temos muitas subidas por trilhas em meio à mata e muitas pedras nessas subidas. Foi de grande ajuda nesse trecho ter um bastão de caminhada. Mesmo onde só havia trilhas de pedras as setas amarelas estavam lá, mas é preciso ter mais atenção. Houve um momento em que quase segui errado e fui chamada de volta ao rumo certo pela Carie, australiana que conheci no primeiro dia e vira e mexe reencontrava. E esse foi o primeiro dia caminhando sozinha. No caminho nunca se está completamente só e nessa altura já havia muitas caras conhecidas com quem reencontrava frequentemente. Eu também já me tornara um rosto conhecido para muitos deles. Ainda que não pudesse me comunicar tão bem com todos devido principalmente as diferenças de idiomas, era como fazer parte de um grupo, andávamos quase no mesmo ritmo, parávamos nas mesmas cidades, dormíamos nos mesmos albergues e até no mesmo quarto que era sempre coletivo. Como mulher que frequentemente viaja sozinha, a minha principal preocupação é a segurança. Em nenhum momento em todo o caminho me senti insegura ou com medo. Obviamente estava sempre atenta, como brasileira, infelizmente a gente se acostuma com a sensação de que pode estar em risco em certos lugares ou situações, mas em todo meu percurso não houve nenhum momento que tivesse sentido algo assim, mesmo caminhando sozinha por muitos quilômetros. Havia muitas mulheres de todas as idades, também fazendo o caminho sozinhas. No Brasil ainda existe um grande tabu com relação a mulheres que viajam sozinhas. Entre europeus e em muitos países do mundo isso é completamente normal. Muita gente reage com estranheza quando digo que faço esse tipo de viagem sozinha, mas para mim isso já se tornou algo normal. Para mim é inconcebível não apreciar a minha própria companhia. Então estar ali caminhando sozinha, em paz, me parecia tão natural quanto respirar. Uma manhã de caminhada bem intensa, mesmo com calor e as subidas pesadas, o percurso praticamente todo teve a sombra dos bosques, o que no verão europeu é uma verdadeira benção. Chegando ao albergue de Rubiães faltava quase uma hora para o local abrir. Era um lugar no meio do nada. Bem em frente ao albergue havia um restaurante fechado. Cheguei a pensar que não haveria onde comer ali. Felizmente seguindo pela rodovia havia um restaurante e um pouco mais adiante um pequeno mercado. O albergue era bem agradável, com salas bem arejadas e até uma área externa com espreguiçadeiras e vista para as montanhas. Foi uma tarde tranquila com tempo de sobra para descansar. 6° Dia De Rubiães a Tuí 20 km
Mais um dia cheio de grandes novidades nessa longa jornada. Deixando Rubiães para trás, caminhando entre bosques e trilhas, antes de encontrar um lugar para tomar o café da manhã encontrei com um peregrino alemão muito disposto a conversar e que me fez um milhão de perguntas. Felizmente ele parecia não se importar muito com meu inglês ainda mais travado devido à fome e o sono.
A pergunta que um peregrino mais ouve é “Por que está fazendo o caminho?” E claro, o alemão me fez essa pergunta. Não há uma resposta única e exata para essa pergunta. Geralmente eu tentava simplificar a conversa dizendo que eu sempre quis fazê-lo. Mas havia muito mais do que isso. Aquele era o momento perfeito para fazer o caminho. Havia passado por algumas mudanças na vida, saí de um trabalho que já não me deixava feliz, me decepcionei com algumas pessoas. Não estava triste, deprimida, nem nada disso. Muito pelo contrario, eu me sentia leve, sentia que tinha tirado um peso das costas. Sentia-me rompendo com o que já não fazia sentido e fazer o caminho iria celebrar tudo isso. Era um momento para mim. Um momento de reflexão, e autoconhecimento. Uma forma de me afastar de tantas coisas e me aproximar de mim mesma. Desde o momento em que comprei as passagens uma semana depois de ser demitida eu me senti em paz. Não queria provar nada pra ninguém, era apenas eu sendo eu mesma, aquela que vai até o fim quando quer realizar algo. Eu queria apenas me re-conectar comigo mesma, restaurar a fé que eu sempre tive em mim, a minha coragem e a minha força pra continuar seguindo em frente. Quando contei que a viagem estava confirmada uma amiga me disse “essa viagem vai te re-equilibrar”. Não poderia estar mais certa. Não falei nada disso com o alemão, mas falei sobre planos para o futuro e desejos de mudança até chegarmos num local chamado São Bento da Porta Aberta, onde paramos para o café da manhã. Segui caminho envolta em meus pensamentos e me dei conta que naquele dia eu chegaria a Espanha e aquilo me deu um novo gás para caminhar. O clima estava mais ameno e isso sempre ajuda no caminhar. Estava tão animada que parecia que eu estava flutuando, principalmente depois que comecei a ouvir música. Mas não qualquer música, só as que me trouxessem energias positivas. Não era nada prático ouvir música com um tablet, mas era o que eu tinha depois que fiquei sem celular. Em algum ponto antes de chegar a Valença, um casal que estava passando de carro parou ao meu lado e me fez muitas perguntas sobre o caminho, quantos dias eu já havia caminhado, quantos quilômetros e coisas do tipo. Pareciam bastante interessados e curiosos. Me ofereceram uma garrafa de água e me desejaram felicidades no caminho. Já em Valença do Minho, ultima cidade portuguesa no caminho português, encontrei dois dos mais simpáticos amigos desta jornada, Paolo e seu pai Roberto ambos da Guatemala. Foi uma companhia muito agradável, sobretudo em um trecho tão emblemático no caminho, afinal adentraríamos em pouco tempo na sonhada região da Galícia na Espanha. Caminhamos sem pressa por Valença cuja parte histórica estava bem movimentada, havia muito comércio voltado ao turismo e um forte de onde se via o Rio Minho e a Ponte Internacional Tuí-Valença que separam os dois países. Vale à pena desviar-se um pouco do caminho para conhecer essa região de Valença. Paramos para uma cerveja no Fronteira, “ultimo bar português do Caminho de Santiago”. Atravessamos a Ponte Internacional Tuí-Valença e iniciamos uma nova etapa do caminho. Não mudava apenas a cidade dessa vez, agora seria outro idioma, já no país de destino, o fuso horário com uma hora a mais com relação ao horário de Portugal. Tuí é a ultima cidade para se iniciar o Caminho de Santiago nessa rota, já que para obter a compostela, o documento emitido na oficina de peregrinos que comprova que a pessoa percorreu o Caminho de Santiago, é preciso caminhar pelo menos 100 km (para quem faz o caminho de bicicleta é necessário ao menos 200 km). Em Tuí me senti na idade média. Com uma catedral românica, construções de muitos séculos atrás, ruas estreitas de pedra e suas ladeiras que desembocavam perto das margens do rio. Me senti privilegiada mais uma vez por estar no caminho e assim ter a chance de conhecer lugares tão peculiares que dificilmente eu visitaria se não o estivesse percorrendo. Era um domingo. Os dias de verão na Europa são longos, pois o sol se põe por volta das 21 horas. Então para quem está disposto a enfrentar as altas temperaturas é uma ótima época para fazer o caminho. Dá tempo de fazer o percurso do dia, descansar e conhecer as cidades antes de cair à noite. Após o almoço descansei em um parque na margem do rio, perambulei pelas ruazinhas da cidade, mandei mensagem para a família informando que já estava na Espanha. Sentei numa praça para tomar sorvete e pensar no quanto já havia percorrido do caminho e o quanto ainda faltava percorrer. 7° Dia De Tuí a O Porriño 15,6 km Acordei às 6 horas, dormi de novo e acordei uma hora depois, ainda confusa com o fuso horário diferente. Olhei em volta e vi que era a única pessoa ainda na cama. Tratei de pular de lá e me arrumar. Roberto quando me viu pronta para sair ficou impressionado com a minha rapidez. Encontrei um lugar para tomar café da manhã ainda antes de sair da região central da cidade. Logo depois encontrei com Franziska, uma jovem alemã que estava fazendo o caminho com a mãe e a tia e quase sempre nos encontrávamos-nos mesmos albergues. Nessa ultima etapa elas haviam pernoitado em Valença ao invés de Tuí. Nessa etapa já se observa um número muito maior de peregrinos, principalmente nos primeiros quilômetros, aos poucos com cada um no seu ritmo a pequena multidão vai se dispersando. Em Portugal o caminho sempre adentra em bosques, trilhas em meio à mata, estradas de terra ou de pedra. Quando havia alguma avenida ou rodovia, quase sempre você devia cruzá-la ou andar apenas alguns metros e já estaria novamente em meio à natureza. Mas essa primeira etapa já em solo espanhol se diferenciava bastante nesse sentido. Havia muitos trechos para percorrer em ruas de asfalto, ao lado de grandes veículos e nesses trechos em específico o caminho se torna um pouco maçante. Foi um percurso bem cansativo para mim. Além de caminhar em uma paisagem não tão convidativa em boa parte do trajeto, o calor estava cada vez mais intenso e eu senti nesse dia muita dor nas costas, provavelmente não havia arrumado as coisas muito bem na mochila. Sentia vontade de parar o tempo todo. Sentia certa inveja de algumas pessoas que carregavam mochilas minúsculas e pareciam estar passeando no bosque. Mas estas pessoas certamente haviam contratado o serviço que transporta bagagens até o próximo destino. O roteiro que eu estava seguindo no aplicativo Buen Camino indicava como próximo local de parada uma cidade chamada Mos, porém vi que seria outro lugar sem muita coisa para se ver ou fazer. Resolvi então adaptar essa parte do roteiro e decidi encerrar essa etapa um pouco antes de chegar a Mos, na cidade de O Porriño, além de aliviar um pouco o cansaço que foi grande nesse dia, simpatizei com a cidade assim que cheguei por lá. À tarde acabei encontrando novamente com Franziska, na avenida principal da cidade. Junto com sua mãe e sua tia tomamos uma cerveja ao estilo alemão. 8° Dia De O Porriño a Pontevedra 34,9 km A maior etapa desse meu caminho. E ficou ainda mais longa devido a ter encurtado a etapa do dia anterior. Poderia ter dividido essa etapa em duas parando em Redondela, mas isso renderia um dia a mais para chegar a Santiago. Além disso, o clima no período da manhã estava bem diferente dos dias anteriores, o céu muito cinza, temperatura ligeiramente mais baixa amenizando o calor. Não imaginei que seria tão difícil chegar a Pontevedra. Acordei às 7 horas, o que é bem tarde para quem teria tantos quilômetros pela frente. Me arrumei voltei ao caminho, parei num café na avenida principal da cidade e quando me pus novamente em marcha já eram 8 horas. Acabei perdendo muito tempo nessas primeiras horas da manhã. Claro, não poderia deixar de tomar café da manhã. Na maior parte do caminho se você não aproveitar e parar no primeiro café aberto para tomar café da manhã ou matar a fome durante o dia pode levar muito tempo e muitos quilômetros até encontrar outro lugar para comer ou comprar algo. Até chegar a Redondela foi razoavelmente tranqüilo, apesar das muitas descidas para testar os joelhos. No período da tarde ainda com muito chão pela frente viriam muitas subidas. Mas o caminho é bem interessante nesse trajeto, bosques, cidades, pontes, rios, trilhas de pedras, mata mais fechada, outro bosque, outra cidade, rodovias. Um caminho longo, mas, nada maçante como no dia anterior. Parei para almoçar em um local simples, porem com uma vista linda e um pouco escondida ao fundo e ao sair de lá o calor já era intenso. Estava aliviada, pois tinha andado um tempão com outro peregrino que parecia não desgrudar de mim, como demorei no almoço ele resolveu seguir na frente sozinho. Mais a frente, parei um pouco conversando com algumas garotas muito animadas, uma portuguesa e outra espanhola, essa ultima contou que havia caminhado 5 km a mais porque se perdeu... Como elas iriam ainda demorar por ali segui meu rumo novamente. Passei por uma auto-estrada onde tive que andar ao lado de enormes caminhões. Logo depois passei pela linda cidade de Pontesampaio, que parecia ter congelado no tempo. Ali, uma senhora estava em seu quintal enquanto eu passava em frente a sua casa, com muita vontade de conversar me falou sobre ter percorrido o caminho muitas vezes e contou da sua vida, perguntou se podia ajudar em algo. Andei depois por um bom tempo sem avistar mais ninguém e a animação foi se esvaindo. Ao menos tinha certeza do caminho, pois era bem demarcado e cheio de sobe e desce. Quando achei que já estava bem perto o mapa mostrava uma bifurcação onde entraria em um bosque ou iria pela auto-estrada. Fui pelo bosque, que mais parecia um labirinto sem fim. Embora o aplicativo indicasse que estava indo na direção certa a impressão que eu tinha era de andar em círculos. Ia margeando um pequeno fluxo de água quando encontrei um morador local que me disse que até o final daquele bosque seriam 2 km e pela auto-estrada seria mais rápido porem não havia acostamento. Eu não queria acreditar que ainda andaria tanto para sair daquele bosque infinito, mas não tinha o que fazer. No albergue publico em Pontevedra não havia mais vagas. Fui até outro albergue, o Aloxa Hostel que também não tinha mais vagas e o senhor na recepção me ajudou entrando em contato com outros dois albergues na cidade que também já estavam cheios. Ele me pediu para esperar e depois de atender outras pessoas que tinham feito reserva me disse que tinha uma cama, e perguntou se eu não me importaria de ficar no quarto junto com um grupo grande. Eu estava desde o inicio dormindo em albergues públicos então porque me importaria? Fiquei sim muito aliviada por ter um lugar para descansar, depois de tantas horas “na estrada”. Com certeza o senhor Pedro que me atendeu na recepção não tem idéia do quanto me ajudou naquele dia. Aquele foi o único momento em todo o caminho em que fiquei realmente preocupada. Se não tivesse conseguido ajuda lá talvez tivesse que ir a muitos outros lugares até conseguir um local para passar a noite ou gastar muito ficando em algum hotel. Ele me recomendou que eu fizesse reserva no meu próximo destino para não correr o risco de ter dificuldades com a hospedagem novamente, verifiquei as opções e ele ligou para mim e reservou. Me senti abençoada por ter encontrado tamanha ajuda no momento em que mais precisei. Senti naquilo tudo a magia do caminho. Eu não estaria abandonada no fim daquela jornada, eu teria um lugar para descansar, tomar um banho, lavar minhas roupas, enfim, cumprir meu ritual diário sempre que finalizava outra etapa. Eu senti o meu coração cheio de gratidão e a certeza de estar onde devia estar. Essa magia do caminho se manifesta das mais diferentes maneiras. Como nesse mesmo dia, quando eu caminhei quase 35 km e achei que não teria energia para mais nada além de dormir. Mas depois de tomar um banho e me alimentar eu me sentia renovada, eu me sentia leve novamente. E ainda fui presenteada naquele longo dia com outra cidade das mais encantadoras do caminho. Era como se todo o meu esforço fosse recompensado. Era mais uma vez o caminho como uma metáfora da vida. Naquele dia eu senti o caminho me ensinado que eu sempre tinha força para seguir em frente, por maiores que fossem as dificuldades. E os problemas que surgissem eu poderia contornar e eu precisava ter fé. Foi uma pena não ter tido muito tempo de conhecer direito a cidade de Pontevedra, pois a cidade é realmente encantadora. Com ruas de pedra, edifícios medievais, monumentos, praças e estreitas vielas, além da lindíssima Igreja da Virgem Peregrina À noite a cidade se torna ainda mais agradável. Muitos restaurantes, bares com mesas ao ar livre, uma combinação interessante entre a história tão viva em cada detalhe do centro histórico e a modernidade de uma pequena cidade turística. Andando por aquelas ruazinhas, já nem parecia que tinha caminhado mais do que nunca na minha vida. Me sentia relaxada, absorta por aquela cidade. Antes de voltar ao hostel, comprei um pedaço de pizza e um chá gelado, sentei na escada de uma igreja para comer e apreciar um pouco mais daquela noite. 9° Dia De Pontevedra a Caldas de Reis 21 km Saindo de Pontevedra, passando pela ultima vez por seu centro histórico, ainda dominada pelo sentimento de encantamento e gratidão por aquela cidade. Nos primeiros quilômetros o caminho me lembrava uma procissão, tamanha a quantidade de pessoas. Não foi uma etapa tão longa, mas para mim foi com certeza a mais sofrida. Talvez pelo esforço do dia anterior, meus pés doeram muito durante quase todo o trajeto. Cheguei a pensar que acabaria com bolhas, tão temidas por todos os peregrinos. Nunca senti tanto a sola dos meus pés. Para piorar a minha situação durante esse trajeto o caminho era em sua maior parte em estradas de terra com muitas pedras, grandes, pequenas, de todos os tipos, mas muitas pedras sob meus pés já cansados. Usei no caminho botas de trilha intensiva, que eram um tamanho maior que o meu e também meias específicas para trilhas e até aquele dia não tive problema algum com os pés. Por iisso acho que o problema não foi o calçado e sim o cansaço acumulado que não combinou com as pedras do meu caminho. Pela primeira vez eu tive que parar, sentar em um lugar qualquer, descalçar as botas e as meias e examinar a situação dos meus doloridos pés. Felizmente nenhum sinal de bolha e não houve bolha até o fim, mas aquela dor seguiu comigo. Em meio a esse sofrimento, me consolava o fato de ter feito uma reserva em um albergue particular, afinal seria uma preocupação a menos. Nas cidades mais próximas a Santiago era de se esperar que os albergues públicos ficassem logo sem vagas. Geralmente custam entre cinco e seis euros e os particulares custam normalmente o dobro disso, mas às vezes vale a pena gastar um pouco mais. Em Caldas de Reis fiquei no Albergue Timonel, que custou 10 euros. Fica logo na entrada da cidade próximo a ponte. Um lugar simples, porem do qual não tive do que reclamar. Dividi o quarto com apenas duas pessoas, uma jovem garota com sua mãe, que também eram peregrinas. Uma companhia bem tranquila. A cidade de Caldas de Reis é bem pequena e tranquila. Provavelmente se não fosse o fluxo constante de peregrinos, seria uma cidade muito pacata. Com uma ponte logo na entrada da cidade, como em quase todas as cidades da região, a cidade tem uma Fonte de água termal. Uma senhora que atendia em um restaurante em frente ao albergue me deu uma maçã e me recomendou que eu fosse até a fonte e ficasse com os pés na água por uns 30 minutos, disse que ajudaria a diminuir as dores das quais eu havia lhe falado. E lá fui eu meter os pés na água quente. Apesar de não haver muito a se fazer ou ver na cidade, dei umas voltas à tarde. O clima estava agradável. Voltei cedo para o albergue. Aproveitei que dessa vez teria um pouco mais de privacidade para descansar. 10° Dia De Caldas de Reis a Padrón 19,2 km
Com os pés praticamente recuperados do dia anterior segui meu rumo. Sempre no meu ritmo, sem pressão, firme e forte. Após 10 dias a mochila nas costas já fazia parte de mim. Me acostumei a acordar bem cedo dia após dia e continuar em frente. Cada dia era único, cheio de surpresas. Cada dia trazia uma infinidade de paisagens que mudavam a cada curva. Queria ter fotografado tudo, cada vez que me deparava com algo novo, cada vez que a natureza me brindava com sua beleza de maneira diferente. Mas era importante manter-me caminhando. E foi o que eu fiz. E tentei guardar tudo aquilo em fotografias mentais, aquelas imagens que vem a cabeça e te trazem um sorriso ao rosto. Aquelas memórias que vem junto com a sensação de liberdade, sonho realizado e fé.
Em determinado ponto daquela etapa parei em uma igreja, onde havia na parte de trás um cemitério vertical. Ali conheci uma simpática família de portugueses, mais adiante conheci alguns peregrinos que viviam nas Ilhas Tenerife. Eram pessoas de muitos lugares diferentes, historias e motivações diferentes e todos com um objetivo comum ali. Em Padrón parecia ser o meu dia de sorte. Não fiz reserva em albergue então fui direto ao albergue municipal. Chegando lá já havia uma fila grande, inclusive havia alguns brasileiros que eu tinha conhecido vários dias antes. Fiquei com a penúltima vaga do albergue para aquele dia, e como fui uma das ultimas a conseguir vaga, fiquei em um quarto menor, com apenas quatro camas e um banheiro exclusivo. Não parecia nada com um quarto de albergue publico, onde normalmente são dezenas de pessoas no mesmo ambiente. Mais uma vez tive sorte também com as companheiras de quarto, que nesse caso eram duas garotas portuguesas peregrinando juntas e no fim da tarde para minha surpresa depois de muitos dias Cecilie chegou para ficar com a ultima vaga no albergue. Quando saí para conhecer a cidade a mesma já estava em plena siesta ( horário no período da tarde em que os espanhóis tiram para descansar). Havia poucas pessoas na rua, alguns turistas ou peregrinos perdidos como eu. Padrón foi uma interessante surpresa após a tediosa Caldas de Reis. Com quase tudo fechado relaxei por um tempo no jardim botânico da cidade, visitei a igreja de Santiago de Padrón e descansei um pouco mais sob a sombra das arvores na margem do rio em mais um longuíssimo dia de verão espanhol. No fim da tarde a cidade pareceu se encher de vida novamente. Diversas ruas exclusivas para pedestres com mesas ao ar livre, muitos bares e restaurantes onde era servido o prato típico da cidade, Pimentos de padrón. A impressão que eu tive é que a cidade inspira certo entusiasmo ao peregrino, afinal chegar até ali significa ter superado muitos quilômetros, dificuldades, dores no corpo e todo tipo de imprevisto que possa ter surgido. Esse clima de ansiedade e animação era bem perceptível no albergue. Bastante gente reunida na cozinha até tarde, diferente do que costuma acontecer nos albergues, onde a ordem é o silencio e o respeito ao descanso de todos. Mas naquela noite observei uma agitação alegre e contagiante compartilhada por todos. Não poderia ser diferente afinal, estávamos muito perto do sonhado destino. 11° Dia de Padrón a Santiago de Compostela 24,5 km
Acordei às 5 da manhã para iniciar a minha ultima etapa deste cainho. Acho que ninguém consegue dormir muito no ultimo dia. Tomei café da manhã bem perto do albergue, no café de D. Pepe que se despedia com abraços calorosos de cada peregrino que passava por lá.
Saindo dali, caminhando pela primeira vez antes do sol nascer, conheci a Marta, uma portuguesa, muito querida que me fez companhia nesse dia. Eu estava há muitos dias sem falar muito português e quando comecei a conversar com a Marta parecia que estava falando sem parar. Falamos sobre viagens, sobre a vida e sobre o caminho. Ter a certeza da chegada mudou bastante o meu caminhar naquela manhã. Não sentia dores nas pernas ou nos pés. Não sentia o peso da mochila e não me incomodava com o calor. O dia foi amanhecendo calmamente enquanto seguia sem ver a hora passar. Mas ainda que anestesiada pela certeza da chegada, foi uma longa etapa. Eu me perguntava durante aqueles dias como seria a minha chegada e tive a sorte de ter nesse dia pessoas do bem e com boas energias dividindo comigo aquele momento. Em certo ponto da caminhada reencontrei a Márcia que fazia a peregrinação junto com seus pais e mora em Viana do Castelo, cidade próxima ao Porto. Estavam no mesmo albergue que eu no dia anterior. Contei a eles um pouco da minha história, de sair sozinha do Brasil e ir a Europa fazer o caminho de Santiago, que era um desejo antigo. Lembro que me disseram o quanto eu era corajosa por ter feito isso. Acho que realmente é preciso muita coragem para realizar um sonho. Não é fácil estar em um país estranho, percorrendo um caminho solitário durante tantos dias. Não é fácil tomar a decisão de fazer algo audacioso quando você está num momento de incertezas na vida. Então acho que fui bem corajosa. Foi pensando em tudo isso que as lágrimas vieram aos meus olhos quando já na cidade de Santiago de Compostela nos aproximávamos da catedral. A Praça do Obradoiro onde está situada a Catedral de Santiago de Compostela é certamente um lugar que reúne muitas emoções. Finalmente eu estava lá entre risos e lagrimas. Transbordando de alegria, fé e gratidão. É difícil descrever a sensação que tive naquela chegada, sem dizer muitas frases que seriam puro clichê ou que até parecessem obvias demais. Eu posso dizer que foi uma felicidade e uma realização imensa estar em Santiago de Compostela após um longo caminho. Estar ali era a recompensa pela minha coragem, pela minha determinação, por cada passo dado, cada dor que eu senti no meu corpo. Era a certeza de que Deus e o apóstolo Tiago me guiaram durante todo o meu caminho. A certeza de que a minha fé nos meus passos me levou até ali. Depois de curtir a chegada fomos até a oficina de atenção ao peregrino onde a espera era de pelo menos duas horas para apresentar a credencial com os devidos carimbos e receber a Compostela, atestando que a peregrinação foi concluída. São emitidos dois documentos, um deles com as informações de onde foi o inicio da peregrinação, qual rota foi feita e a quantidade de quilômetros e o outro documento que é opcional e de caráter religioso e todo escrito em latim. A Compostela custa 1,50 euros e ali também se pode comprar a vieira de Santiago e outras recordações da chegada. Em Santiago de Compostela No dia anterior havia feito reserva no albergue Sixtos no Caminho que para minha surpresa era de uma família de brasileiros. O albergue era excelente. Ambiente acolhedor, muito limpo e arejado. Cama bem confortável, tomada e lâmpada individual, além de uma cortininha para que cada um tenha um pouco de privacidade. A poucos minutos de caminhada da região central e também muito perto do terminal de ônibus, foi uma ótima escolha. Resolvi ficar dois dias na cidade. Depois de tantos dias eu merecia uma pequena pausa para conhecer um pouco da capital da Galícia. Uma das coisas interessantes nesses dois dias é que enquanto passeava pela cidade ia encontrando o tempo todo algum velho conhecido do caminho. Para todos os peregrinos, em especial aos católicos, um evento bem especial é assistir a missa do peregrino. O caminho todo é um até de fé e aquele era para mim um momento de agradecer por tantas bênçãos no meu caminho e na minha vida. A missa na época da minha peregrinação estava ocorrendo na igreja de São Francisco, que fica bem próxima a Praça de Obradoiro, devido às obras na catedral. Outro importante ritual é o abraço ao Apóstolo, a estátua românica que recebe os peregrinos está sobre a cripta que contém a urna com as relíquias do Apóstolo, este ritual simboliza o amável acolhimento do apóstolo após o esforço da peregrinação. Um lugar imperdível em minha opinião é o Museu das peregrinações e de Santiago, que conta com riqueza de detalhes a historia do caminho de Santiago através dos séculos, sua origem e as mudanças e transformações nos costumes dos peregrinos ao longo do tempo. É possível conhecer também a origem e o significado de cada um dos muitos símbolos do caminho. O museu apresenta também outras importantes rotas de peregrinação pelo mundo, Roma e Jerusalém, que junto com Santiago de Compostela formam as três grandes peregrinações Cristãs mais conhecidas. O museu é gratuito aos sábados à tarde, para minha sorte justamente quando eu estava lá e também aos domingos durante todo o dia. Outro ponto interessante na cidade, recomendado por uma moradora local, é o mercado de abastos, a segunda atração mais visitada na cidade, onde é possível comprar diversas iguarias da região e também se deliciar com a culinária local. A cidade é repleta de atrações para todos os gostos, igrejas, mosteiros, parques e museus. Acho que mais interessante do que ir de um ponto turístico a outro é se permitir explorar livremente a cidade, bater perna pelo centro histórico, relaxar sem compromisso. Sentar em um café ou em uma praça e observar o movimento da cidade. Escolhi fazer isso na tão emblemática Praça de Obradoiro, observar os grupos animados, tirando as mais criativas fotos, muitos peregrinos cansados tirando as mochilas das costas e descalçando as botas, algumas pessoas cantando e outras fazendo suas orações. A praça estava sempre cheia de gente durante todo o dia, formando uma egrégora de paz. Ao menos para mim o compromisso era cumprir a minha jornada. Feito isso, a idéia era apenas curtir os próximos dias, tanto em Santiago, quanto nas cidades que viriam depois. Inicialmente havia pensado em fazer a prolongação do caminho caminhando mais três dias até chegar a Finisterre e depois caminhar até Muxia, outra prolongação do caminho. Devido principalmente ao fato de ter poucos dias até a data da minha volta ao Brasil, resolvi manter os dois locais no roteiro, porém a prolongação do caminho ficaria para uma próxima ocasião. Finisterre
Finisterre
A viagem de ônibus de Santiago até Finisterre dura pouco mais de uma hora. A cidade fica na região conhecida como Costa da Morte, na região costeira da Galícia. A região recebeu esse nome por causa dos muitos naufrágios ocorridos ao longo da costa rochosa e traiçoeira. Em Finisterre me hospedei no albergue Arasolis, que fica na rua com o mesmo nome. A cidade não tem terminal de ônibus, os mesmos param na rua principal onde fica também o guichê de venda de passagens. Após sair do ônibus é só entrar à direita e em poucos minutos encontrará o albergue. O proprietário do local recebe a todos de maneira muito amável e alegre, contando suas historias de vida e presenteando a todos com uma concha e um cartão postal da cidade e as meninas ganham também uma pulseira. Além disso, me deu ótimas dicas sobre o que fazer na cidade. O lugar tem uma cozinha de uso coletivo. Fica bem próximo á praia também. Fiquei dois dias na cidade, queria aproveitar a proximidade com o mar e relaxar. A principal atração da cidade é o Faro de Finisterre, o farol, onde termina o caminho para quem faz a prolongação do mesmo até a cidade de Finisterre. Ali fica o totem indicando o quilometro 0,0 para os peregrinos. O farol fica a três quilômetros do centro da cidade e para chegar é só seguir as indicações na cidade e depois seguir a estrada. Uma subida bem peculiar e bonita em minha opinião, do lado esquerdo avista-se o mar e em certo ponto do caminho tem uma estátua de um peregrino. Lá em cima tem também uma loja de suvenires e um restaurante que parecia ser bem caro. O farol do Cabo Finisterra, ainda ativo nos dias de hoje, é o farol localizado mais no oeste da Europa e tem grande importância para a navegação na região da Costa da Morte. Há uma tradição entre os peregrinos de prolongar o caminho até ali e queimar peças de roupa antes de regressarem as suas casas. Conforme me recomendou El gato, no albergue deixei para ir até lá ao anoitecer para poder ver o por do sol na encosta do Cabo e valeu muito à pena. Daquele ponto ver o sol se pondo no mar foi um espetáculo lindíssimo e até mesmo um privilégio para quem tem a chance de conhecer a cidade. É bom levar uma lanterna, pois na volta para a cidade, descendo a estrada a única luz vem dos poucos carros que passam por ali. No dia seguinte pela manhã caminhei até a praia de Langosteira, no outro extremo da cidade. Naquela manhã o vento era tão forte como eu só havia visto na Patagônia. Mesmo com a ventania a praia era muito bonita, as areias cheias de conchinhas e quase deserta a não ser pelos peregrinos que ali chegavam. À tarde, para minha surpresa, o tempo esquentou bastante, não havia nenhum sinal da ventania de algumas horas antes. Então aproveitei o clima favorável para tomar sol na pequena praia da Riveira. Conheci também o Museu da Pesca, bem próximo da praia, um museu pequeno, mas bem interessante que conta a história da pesca e da navegação na Costa da Morte. A cidade tem alguns cafés e restaurantes, e alguns destes especializados em peixes e frutos do mar. Um restaurante que eu gostei muito foi o Baleas, fui lá duas vezes, a especialidade são as massas, muito saborosas e os preços eram razoáveis. Outro restaurante muito bom e com atendimento acolhedor, o Frontera, em frente à parada de onibus, os dois locais tinham muitas opções vegetarianas, o que não era muito comum em algumas cidades por onde passei. Outro lugar com um visual incrível para apreciar o por do sol é a praia Mar de Fora. Cerca de quarenta minutos de caminhada do centro da cidade até lá, mas vale muito à pena. Muxia
Outra cidade na Costa da Morte onde a fé e as tradições religiosas se ligam aos caminhos de Santiago é Muxia. Há cerca de 30 minutos de onibus saindo de Finistere, num caminho que deixou meu estomago embrulhado. Uma cidade pequena, porém muito simpática. O ultimo destino dessa empreitada pela Europa.
Em Muxia me hospedei no albergue/hostel Bela Muxia. Mais uma vez a recepção foi excelente. Quando cheguei ao local ainda faltava uma hora para o horário de check-in, poderia esperar claro, mas comentei com o senhor na recepção que tinha ficado um pouco enjoada pela viagem de ônibus e o mesmo foi muito solicito comigo e me deixou ir para o quarto naquele mesmo instante. Além da ótima recepção o lugar era muito agradável, tinha uma cozinha bem grande e um lindo terraço com vista da cidade onde era possível avistar também o mar. Uma pena que fiquei somente um dia na cidade. A praia de A Cruz, indicação de um morador da cidade tem águas claras, mar calmo e um visual muito bonito. Passei horas ali aproveitando um dia lindo de muito sol. O principal ponto de interesse na cidade é o Santuário Virxe de La barca (Virgem da Barca) Segundo a lenda o apóstolo Tiago foi até Muxia, implorar a Deus que seus sermões tocassem as pessoas. Nesse momento então, a virgem teria aparecido a ele num barco de pedra puxado por anjos e lhe disse que voltasse a Jerusalém, pois a sua missão naquela terra havia terminado, Tiago retornou conforme a virgem lhe havia dito, porem havia plantado ali a semente da fé cristã que viria a florescer futuramente. Há também lendas sobre as pedras localizadas no rochedo de Muxia. As pedras teriam relação com o barco da virgem em sua aparição e também lendas sobre propriedades curativas. Ainda ali no rochedo, complementando de forma peculiar a paisagem o monumento “A Ferida”, dedicado aos voluntários que durante meses limparam as praias da Costa da Morte após um desastre que provocou o derramamento de óleo combustível naquela região. È uma das maiores esculturas de toda a Espanha, com mais de 11 metros de altura, é dividido em duas partes e simboliza a ruptura e o impacto que esse desastre causou a costa Galega. A obra pode ser vista de muito longe pelos bascos que se aproximam da costa. Ali no rochedo a vista do por do sol é belíssima. Infelizmente não fiquei para ver. Ainda faltava pelo menos duas horas para o sol se por quando voltei ao centro da cidade para meu ultimo jantar no meu restaurante favorito por ali.
Algum tempo atrás em uma aula de inglês a professora me pediu para falar (em inglês, obviamente) sobre alguma viagem que tivesse marcado a minha vida. Claro que muitas viagens vieram a minha cabeça, principalmente as mais recentes onde tinha visto paisagens paradisíacas. Mas naquele momento me ocorreu mencionar a minha primeira viagem para fora do Brasil, quando fiz um mochilão passando por Bolívia, Peru e Chile ao lado da Carol, minha melhor amiga e ficamos um mês percorrendo esses três países. E pensando nessa viagem tanto tempo depois acabei concluindo algumas coisas bem interessantes.
Sempre tive o sonho de viajar e conhecer o mundo. Desde pequena assistia a reportagens na TV sobre lugares exóticos e longínquos e imaginava o quanto seria legal conhecer aqueles lugares de perto. Quando a Carol sugeriu de fazermos essa viagem eu não pensei duas vezes em aceitar. Eu havia saído há pouco tempo de um emprego de muitos anos, do qual eu já não curtia muito e fazer uma grande viagem após sair dessa empresa foi como dar férias a mim mesma. Muitas pessoas ao saberem que tinha saído me questionavam quais eram os planos e se já tinha outro trabalho em vista e eu respondia: “não vou procurar trabalho agora, estou indo viajar”. A América do Sul é um continente riquíssimo em diversidade cultural, paisagens naturais das mais variadas e com opções para todos os tipos de viajantes. A escolha do roteiro foi da Carol, nós temos gostos parecidos gostamos de fazer caminhadas, trilhas e passeios ao ar livre então desde o início me empolguei com a idéia de visitarmos Bolívia, Chile e Peru. Naquela época em 2012 a situação econômica no Brasil era bem diferente do que é hoje e viajar por esses países com o dólar custando aproximadamente R$2,00 era realmente barato, principalmente na Bolívia onde passamos mais tempo que nos outros países e isso claro facilitou um pouco as coisas. Fazer essa mesma viagem hoje em dia seria muito mais caro. Fazer o planejamento de uma viagem é algo que hoje em dia considero como um capítulo a parte de qualquer viagem. Eu particularmente adoro essa fase de planejar todos os detalhes da viagem, considero que é onde a viagem começa e vai tomando forma. È um processo bastante trabalhoso na maioria das vezes, mas é também uma das coisas que te deixa mais animado em conhecer determinados lugares e, além disso, um bom planejamento vai ajudar a aproveitar melhor o seu destino e também vai ajudar a economizar antes e durante a viagem. Da nossa maneira fomos planejando aquela viagem ao longo de uns quatro ou cinco meses que a antecederam, não sei ao certo quando começou a preparação. Compramos equipamentos como mochila, botas de trilha, roupas para frio e também para tempo quente. Tiramos nossos passaportes (embora seja possível viajar pela América do Sul apenas com o RG), tomamos a vacina da febre amarela e tiramos o certificado internacional de vacinação (esse sim obrigatório para viajar pelos países de destino). Dois meses antes compramos passagens de ida e volta para Santa Cruz de La Sierra na Bolívia e a nossa viagem aos poucos foi tomando forma. Na primeira vez fazendo um mochilão ou uma longa viagem para o exterior você aprende muita coisa. Eu aprendi principalmente a tomar gosto por viagens. Antes desta viagem claro que já gostava de viajar, mas havia feito apenas viagens mais simples, principalmente para visitar a família e viagens curtas. Nessa viagem tudo foi diferente do que já tinha vivido até então. Eu sempre fui muito independente, mas naquela viagem eu senti que estava descobrindo o que era ter liberdade. Afinal éramos apenas a minha melhor amiga e eu e um monte de aventuras pelo caminho. O que pode ser mais libertador do que isso? Eu me sentia livre. Estava pela primeira vez saindo da “zona de conforto”, longe da família em lugares diferentes, falando um idioma diferente, experimentando comidas exóticas, conhecendo pessoas do mundo todo, aprendendo a me virar e tomar decisões de viagem. Pela primeira vez eu pude comprovar que o mundo é enorme, cheio de possibilidades e que havia muita coisa pra se ver e conhecer. Foi com essa viagem que aprendi que viajar não é “coisa de rico”, nem é algo elitizado. Viajar é possível sim. Conhecer o mundo sempre pareceu um sonho distante, mas eu aprendi que sonhos podem se tornar realidade. Outra coisa das mais importantes e interessantes dessa experiência foi a oportunidade de conhecer lugares tão próximos do Brasil, porém tão diferentes culturalmente. Conhecer outro país é a melhor forma de conhecer de verdade outra cultura. Não é simplesmente ter a opinião de um terceiro, ou de algo que você leu ou viu na TV, é simplesmente ir até lá e tirar as suas próprias conclusões. É ver, ouvir e sentir tudo você mesmo. Conhecer outras culturas te traz uma nova visão do mundo e te mostra o quanto cada lugar é único e cheio de peculiaridades. Para mim essa é uma das coisas mais fascinantes de viajar. Nós tínhamos planejado um roteiro para essa viagem, alguns lugares por onde pretendíamos passar e alguns pontos turísticos em mente. Mas nem tudo estava definido quando embarcamos. Fizemos reserva em um hostel em Santa Cruz de La Sierra, a primeira cidade por onde passaríamos e todo o resto foi se desenrolando ao longo daqueles dias. Talvez por isso tenha sido uma viagem incrível, por que muita coisa aconteceu de forma espontânea. Cada dia foi único e cheio de descobertas. Fazer uma viagem de forma independente, sem um roteiro engessado te mostra que é preciso se adaptar e ser flexível. Isso pode tornar a viagem ainda mais interessante. Muita coisa nessa viagem foi diferente do que imaginei, mas desde o início estava com a mente aberta e isso foi fundamental. Por mais que você planeje e pesquise as coisas são diferentes quando você está mochilando. Você precisa estar aberto a descobertas. Você vai ter a oportunidade de conhecer pessoas do mundo inteiro, e trocar idéias e experiências, principalmente em hostels e durante os passeios. Vai ter a oportunidade de conversar com os moradores locais, saber um pouco sobre a vida deles naquela cidade. Esse é o tipo de coisa que não tem preço. Essa troca cultural com as pessoas ao longo da viagem pode te trazer experiências enriquecedoras que você vai levar para o resto da vida. Vai ter também situações chatas, como vendedores insistentes, principalmente nos locais mais turísticos, pode ocorrer de se deparar também com golpistas de todos os tipos, aos quais é preciso estar muito atento. Viajar me ensinou também a desapegar e que não é preciso muito quando você está onde quer estar. Não é preciso e tampouco é recomendável ter muita bagagem quando se faz um mochilão. Nessa viagem eu tinha uma mala de rodinhas e uma mochila de quarenta litros. Era realmente muita bagagem para alguém que percorreria tantos lugares em tão pouco tempo. Ao longo das viagens seguintes a minha bagagem foi diminuindo bastante. Tudo é aprendizado. Nem tudo foi planejado e algumas coisas saíram até melhores do que se tivéssemos planejado. Quando estávamos em Cusco, já no finalzinho da viagem lembro-me de ter comentado que mesmo não passando por alguns lugares que eu queria muito ver eu estava muito feliz e satisfeita por que eu tinha passado por lugares lindíssimos e incríveis como o Salar de Uyuni. Tinha conhecido muita gente interessante, superado muitos desafios, como a questão da altitude em La paz. Passamos por alguns perrengues, como viagens de ônibus muito longas e cansativas e dificuldades para encontrar hospedagem em algumas cidades e sobrevivemos a tudo isso. Na verdade nós vivemos tudo isso. Aproveitamos cada lugar e cada oportunidade. E esse é mais um aprendizado que eu tiro dessa viagem. Aproveitar a oportunidade e viver intensamente. Depois dessa viagem tive muitas outras e algumas junto com a Carol e lembro que diversas vezes durante essa viagem a gente já falava que tínhamos que fazer outras. Chegamos a prometer que faríamos outro mochilão juntas em pouco tempo. E realmente fizemos no ano seguinte. Mas essa primeira experiência como mochileira foi realmente especial. Não foi uma viagem perfeita, na verdade fizemos muitas trapalhadas e vivemos situações que nos fazem rir muito até hoje. Com certeza ficaram lições para a vida toda e principalmente essa vontade de conhecer muitos outros lugares com a mente aberta e muita coragem e fé! |
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